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Azulejos de
                   LISBOA

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Os azulejos de Lisboa estão por todo o lado! Subindo e descendo as colinas, por todos os bairros e ruas, praças, becos e calçadas. Estão na Baixa, por Alfama, pela Mouraria, na Graça, em São Vicente, São Paulo, Santa Catarina, Bairro Alto, Lapa, Estrela, Alcântara ou Belém, é só escolhermos por onde começar...

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Cruzam-se connosco a todo o momento, quando passeamos pelos bairros e freguesias da cidade, e vão ao encontro do nosso olhar, mesmo que estejamos distraídos. Sorriem-nos com os seus padrões, que se multiplicam e repetem em fachadas intensas e coloridas, criando iconografias que nos contam ou sugerem histórias e fazem de Lisboa, uma galeria de arte urbana a céu aberto e coberto, tornando-a uma cidade única, sem paralelo na Europa. Os azulejos de padrão que encontramos por Lisboa são de todas as cores e tonalidades, desde os verdes, castanhos, amarelos, laranjas, mas sobretudo os azuis, e com os mais variados desenhos, que se misturam em círculos, flores, quadrados, losangos, estrelas ou cruzes, conforme o gosto das épocas. Replicam-se geometricamente, numa infindável composição artística, de grande impacto visual, resultante das cores e da cintilação dos materiais cerâmicos que transformam e iluminam a arquitetura mágica da cidade.O nome “azulejo” tem origem na palavra árabe, 

"azzelij" ou “al zuleycha”, que “pequena pedra polida” e designa uma peça cerâmica, geralmente quadrada, em que uma das faces é vidrada. A partir do século XV, começaram a chegar de Sevilha e Toledo, elaborados ao gosto hispano-mourisco, também conhecidos como azulejos “mudéjares”, que podemos ver no Museu Nacional do Azulejo. No museu do Castelo de São Jorge, podemos também observar vários azulejos de revestimento retangular, com técnica de aresta ou de corda seca, importados do sul de Espanha, ao longo da 1ª met. do século XVI. De Itália e Antuérpia, começaram a surgir os azulejos de técnica “majólica” ou “faiança”, que permitiam pintar diretamente sobre o azulejo vidrado, aumentando a liberdade criativa, enquadrada pelas novas estéticas do Renascimento e do Maneirismo, com temas mais vegetalistas e animalistas, em detrimento dos motivos islâmicos.

Painel de azulejos, detalhe, mercado da Ribeira Velha e casa dos Bicos, Lisboa, cerca de 1720, museu da Cidade, Lisboa. Foto: @foartista.

Painel de azulejos, detalhe, mercado da Ribeira Velha e casa dos Bicos, Lisboa, cerca de 1720, museu da Cidade, Lisboa. Foto: @foartista.

Tornam-se comuns os azulejos “enxaquetados”, ou de “caixilho”, isto é, em forma de xadrez, formando uma malha geométrica, de decoração mais simples, monocromáticos, em azul ou verde, dispostos na diagonal, e que passaram a revestir as igrejas, como podemos ver na Igreja de São Cristóvão, na Mouraria. Visitem o Museu Nacional do Azulejo, localizado no Convento da Madre de Deus, em Xabregas, para descobrirem as valiosíssimas coleções de azulejos que aí se encontram, e compreender a evolução desta arte, ao longo do tempo. O Museu da Cidade, situado no Palácio Pimenta, no Campo Grande, também é de visita obrigatória, para apreciarmos o seu vasto espólio azulejar, parte dele ainda desconhecido do público, só aparecendo em exposições temporárias.

Lisboa também se retrata através dos seus azulejos. A cidade passa a ser o tema, e é ilustrada, como se estivesse a ver ao espelho. No último andar do Museu do Azulejo, podemos maravilharmo-nos com um grande painel de azulejos, da primeira metade do século XVIII, proveniente do antigo palácio dos condes de Tentúgal na rua de Santiago à Sé, que nos mostra a vista panorâmica de toda a Lisboa, antes do terramoto de 1755. Este painel, atribuído à oficina de Gabriel Del Barco, revela-nos detalhes incríveis da cidade, desde Belém até Xabregas, destacando-se os principais monumentos, palácios, conventos e igrejas, entre o casario que desce na direção do rio.

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Painel de azulejos, det.,"Vista Panorâmica de Lisboa, anterior ao terramoto de 1755, inícios do século XVIII, Museu do Azulejo, Lisboa. Foto: @foartista.

Vários painéis no Palácio Pimenta, mostram-nos também a Lisboa dos séculos XVIII e XIX, ou outros momentos da história de Portugal, alguns, reproduzidos em exteriores, como no jardim Júlio de Castilho, no miradouro de Santa Luzia. Neste miradouro, com uma das vistas mais bonitas sobre Alfama, podemos observar uma grande miscelânea de azulejos dos séculos XVII e XVIII, recentemente restaurados. No largo de Santa Luzia, encontramos um painel que retrata a Lisboa dos anos 40, vista do rio. Na rua do Alecrim, na fachada da loja Sant’Anna, descobrimos dois painéis de azulejos deliciosos, do século XIX, que retratam o antigo Mercado da Figueira e o Aqueduto das Águas Livres.

Os azulejos passam a fabricar-se em massa, adquirindo um gosto e uma estética muito portuguesa, cobrindo tanto os exteriores como os interiores de palácios, palacetes, prédios, casas de ricos e pobres, igrejas, mosteiros, lojas e mercados. Espalhados por toda a cidade, envoltos por ramagens, flores e florões, contam histórias sagradas da Bíblia, de anjos e santos, e histórias profanas de músicos, damas e fidalgos a namorar ou a passear, nobres a caçar, pessoas do povo nos seus vários ofícios, figuras de convite ou soldados e marinheiros, como se de uma autêntica Banda Desenhada se tratasse. Tornam-se por excelência, um grande um canal de comunicação e informação, para as massas iletradas, assumindo também um carácter didático, como é o exemplo dos painéis de azulejos da Aula da Esfera do antigo Convento de Santo Antão-o-Novo, atual Hospital de São José, na travessa do Hospital.

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Azulejos da fábrica Sant`Anna, Aqueduto das Águas Livres, rua do Alecrim, Lisboa. Foto: @foartista.

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Azulejos da fábrica Sant`Anna, Mercado da Praça da Figueira, Lisboa. Foto:@foartista.

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Azulejos, séc. XVIII, palacete dos Condes de Monte Real, rua de São Domingos, Lapa, Lisboa. Foto:@foartista.

Visitando por exemplo, os jardins do Palácio dos Condes de Penafiel, na rua de São Mamede, o Palácio da Independência, na rua das Portas de Santo Antão, ou o palácio Valada-Azambuja, no largo do Calhariz, ou ainda os jardins do palácio Fronteira, no largo de São Domingos, em Benfica, ou quaisquer conventos ou igrejas da cidade, como o Convento de Jesus, na travessa com o mesmo nome, o Mosteiro de São Vicente de Fora, no largo de São Vicente, ou a Igreja de São Roque, no largo Trindade Coelho, percebemos, claramente, que os azulejos fazem parte de um quotidiano já muito antigo, indissociável da cidade.O azulejo torna-se assim, uma arte identitária, não só de Lisboa, como de todo o país. No século XVII, a produção de Lisboa aumenta bastante, predominando a influência oriental, em que os painéis de azulejos se passam a assemelhar a tecidos indianos ou a tapetes persas, muito usados, sobretudo, nos frontais dos altares das igrejas.

No Convento da Graça, no largo do mesmo nome, ou no Museu do Azulejo, podemos encontrar os azulejos “grotescos”, que começam a surgir nesta altura, em que os temas do burlesco, do caos e da incoerência dominam. Da Flandres surgem as “macacarias”, que representam macacos trajados como se fossem pessoas, com um carácter satírico e de critica aos bons costumes da época. Não deixe de apreciar, no Museu do Azulejo, “O Casamento da Galinha”, um dos painéis mais significativos deste estilo.Os azulejos de padrão “ponta de diamante”, de origem espanhola, com o motivo central desenhado em pirâmide, criando uma ilusão ótica de efeito tridimensional, são aplicados na Igreja de São Roque, mesmo nos finais do século XVI.

Conhecem um grande desenvolvimento por toda a cidade, no primeiro quartel do século XVII, sendo ainda visíveis nalgumas fachadas lisboetas em Alfama ou na Misericórdia, entre outras. As “albarradas”, ou azulejos que ilustram jarras, taças ou cestos com flores, muitas vezes com querubins e papagaios, ou outras figuras semelhantes, também de origem flamenga, ganham por cá, uma expressão própria. Inspirados nos azulejos holandeses, e com grande aceitação nacional, foram os azulejos de “figura avulsa”, em que cada azulejo representa no centro uma única imagem, e nas pontas uns símbolos em “estrelinha”. Podemos observá-los por exemplo, no Palácio Azurara, no largo das Portas do Sol, ou no mosteiro de São Vicente de Fora. 

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Painel de azulejos, "O Casamento da Galinha", macacaria, detalhe, c.1660-1667, Museu Nacional do Azulejo, Lisboa. Proveniência: Quinta da Cadriceira, Torres Vedras. Foto: @foartista.

Enquanto no século XVII predominavam os azulejos policromos, nas cores azul, verde e amarelo, mais para o final do século, passa a predominar o uso do azul cobalto sobre fundo branco, que irá dominar todo o século XVIII, evidenciando a qualidade do traço, com a vinda para Lisboa de mestres espanhóis e a formação de artistas portugueses, numa altura em que a produção de painéis decorativos dispara, como se pode ver no Mosteiro de São Vicente de Fora. Nas primeiras décadas deste século, Lisboa torna-se a capital mundial do barroco. A estética barroca ou “joanina”, levou a que os azulejos fossem cada vez mais ornamentados monumentais e fantasiosos, enquanto o estilo “regência”, de transição para o rococó recupera a policromia nas cores amarelo, verde e violeta, tal como a continuação do uso do azul cobalto. Para a reconstrução rápida da cidade, após o terramoto  de  1755,   os.  azulejos   foram muito   usados,    quer   por 

questões de higiene urbana, quer para disfarçar a simplicidade decorativa dos prédios pombalinos, construídos com pressa. Retoma-se o uso do azulejo de padrão, a mais baixo custo. Ficaram conhecidos como as “padronagens pombalinas”, cujo desenho é composto por uma flor central amarela, dentro de uma moldura azul, em que os cantos formam uma flor castanha, com o remate da cercadura em folhas de acanto enroladas. São visíveis em muitas das reconstruções, sobretudo nos interiores de prédios, palacetes e igrejas, mas também em revestimentos exteriores, espalhados pela cidade. Nos últimos anos do século XVIII, a azulejaria lisboeta adota a estética neoclássica, com a maior parte dos painéis figurativos e de fachada, produzidos na Real Fábrica de Louça do Rato.

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Painel de azulejos, S. Marçal, protetor dos incêndios, Santo António e o Menino, rua dos Remédios, Alfama, Lisboa. Foto: @foartista.

Ao passearmos pelas ruas dos bairros mais antigos de Lisboa, descobrimos sobre algumas portas, um detalhe muito pitoresco, que consiste na existência de pequenos painéis, com a evocação de santos, como é o caso de uma placa, datada de 1749, que se pode observar na rua dos Remédios em Alfama, em que se vê São Marçal, protetor contra os incêndios, acompanhado de Santo António e o Menino, e a representação da pomba do Espírito Santo. Tanto no Bairro do Castelo, como no Bairro Alto ou na Mouraria, por exemplo, podem-se encontrar painéis semelhantes. Com a ascensão da burguesia, no século XIX, e a crescente procura de azulejos para os seus palácios e palacetes, tanto em Portugal, como no Brasil, fazem disparar o surgimento de novas fábricas de cerâmica, como por exemplo, a famosa fábrica Viúva Lamego, fundada em Lisboa, no ano 1849, por António da Costa Lamego. 

Também Rafael Bordalo Pinheiro, seduzido pela cerâmica, nos deixou alguns painéis de azulejos de padrão, em relevo, que se encontram no Museu do Azulejo e no jardim do Palácio Pimenta. Com o avançar do século, multiplica-se cada mais o uso do azulejo no revestimento dos prédios e espaços públicos, combinando cores e desenhos variados, de inspiração romântica e revivalista, evoluindo nos inícios do século XX, para uma estética mais próxima da Arte Nova, ou por alternativa, para uma produção mais nacionalista e tradicional.  A Arte Deco triunfante na Europa, após a 1ª Guerra Mundial, irá trazer também a Lisboa, motivos mais depurados e geometrizados. Vulgariza-se o uso do azulejo industrial. No início do século XX, fazem-se sentir as influências neorrealistas presentes nos azulejos de Almada Negreiros.

Nos anos 30, a Fábrica Viúva Lamego inicia uma colaboração local com vários artistas plásticos, elevando bastante a qualidade artística da azulejaria portuguesa. Temos o exemplo do trabalho pioneiro de Jorge Barradas, considerado um artista chave na renovação da azulejaria, inspirando mais tarde, outros grandes artistas, como Manuel Cargaleiro ou Querubim Lapa. Não deixe de visitar a antiga fábrica e atual loja, localizada no largo do Intendente. Irá surpreender-se pela beleza deste edifício, classificado como imóvel de interesse público, todo forrado a azulejos figurativos, em estilo naïfoitocentista, da autoria do diretor artístico da fábrica, Ferreira das Tabuletas.

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Fábrica Viúva Lamego, largo do Intendente de Pina Manique, Anjos, Lisboa. Foto: @foartista.

A partir da segunda metade do século, os azulejos de padrão motivam cada vez mais os criadores artísticos. Vamos assistir à evolução de um desenho mais depurado e geométrico, com uma essência mais gráfica do que volumétrica, que acompanha progressivamente, as novas tendências modernistas da arquitetura internacional. É o caso de Maria Keil, uma das artistas que explorou os limites da padronização do azulejo, e que podemos observar no seu painel, “O Mar”, na avenida Infante Santo, ou nas composições que decoram as várias estações do Metropolitano de Lisboa, a par de outros criadores mais recentes, que poderá também apreciar.A arte do azulejo continua a crescer e a dominar cada vez mais  os espaços   públicos  na cidade,   como é  o caso do

grande painel de André Saraiva, inaugurado em 2016, em jeito de Street Art, no muro do Jardim Botto Machado, em São Vicente, onde se faz a Feira da Ladra.  Cada vez mais, o azulejo afirma o seu estatuto de arte maior, aproximando artistas plásticos, arquitetos, urbanistas e um vasto público seguidor e interessado. Ao longo do tempo e até aos dias de hoje, Portugal manteve uma forte tradição na produção de azulejos, revestindo-se literalmente com eles, sem nunca se fartar, dando-lhes os mais variados usos e aplicações, que ultrapassam, por vezes, a sua função original, projetando-os para outros patamares, mas sempre de uma forma profunda, elaborada e criativa, caracterizada pela liberdade artística, que ajudaram a moldar um gosto bem português, e a fazer da nossa azulejaria, uma séria candidata à distinção de Património da Humanidade. 

Texto de: Fernando Oliveira, professor. 

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Prédio pombalino, rua dos Anjos, Lisboa. Foto: @foartista.

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